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Benta Pereira

Benta Pereira (1675-1760), viúva e matriarca de uma família de seis filhos, é considerada uma heroína campista. A ela se atribui participação ativa no histórico levante de 21 de maio de 1748. Na manhã daquele dia, cerca de 500 habitantes da Vila de São Salvador dos Campos dos Goytacazes tentaram impedir, à força, a posse do 4° Visconde de Asseca como donatário da Capitania da Paraíba do Sul. O levante foi o estopim de um longo conflito pela propriedade de terras opondo dois grupos familiares, tendo como ponto de partida remoto o fracasso da tentativa de colonização por parte do donatário Gil de Gois, no século XVII. 


De um lado estavam os descendentes de Salvador Correia de Sá e Benevides, que conseguira da Coroa Portuguesa a condição de novo donatário da capitania. Seus descendentes entraram para a história campista como o 1°, o 2°, o 3° e o 4° Visconde de Asseca. Do lado oposto estava um coeso grupo familiar — que tinha em Benta Pereira uma ativa participante — a reivindicar a propriedade das terras e acusar os Asseca de exercer um domínio tirano na planície Goitacá.

O conflito, repleto de lances de bastidores e reviravoltas legais, chegou a um ponto crítico em que o grupo dos fazendeiros locais, do qual participava Benta Pereira, pegou em armas para impedir a posse do 4° Visconde de Asseca como donatário da Capitania. O levante na Câmara de Vereadores, em 21 de maio de 1748, resultou inicialmente na prisão de dezenas de rebeldes e no degredo de parte deles para Angola. A sentença foi revista em 1751, quando foram condenados apenas nove moradores — incluindo Mariana de Souza Barreto, filha de Benta Pereira. Em 1752 todos receberam o perdão real, e em 1753 o 4° Visconde de Asseca teve que devolver a Capitania à Coroa.

Certos relatos apontam que Benta Pereira também pegou em armas. Outros, mesmo preocupados em recontar a história com rigor historiográfico, reconhecem na matriarca um papel importante na articulação de seu grupo familiar e na construção de redes de influência nas instâncias de poder da então colônia — em um tempo em que em geral cabiam à mulher papéis domésticos.

A reverência a Benta Pereira expressa o tributo a uma geração de campistas avessa à obediência cega às ordens da Coroa. Sinal disto é a própria instalação da Câmara em 1652 — desautorizada pelo rei e reafirmada pelos campistas, ilegalmente, em 1656.

É fato que Benta Pereira foi uma mulher de posses e que o levante de 1748 envolveu dois grupos poderosos, tendo a população pobre participado como coadjuvante. Mas os heróis não são anjos ou deuses, e sim pessoas de carne e osso que, a despeito disto, deixam marcas inspiradoras para além de sua própria geração.

Fontes:

- Blog do Instituto Historiar. Benta Pereira. http://institutohistoriar.blogspot.com.br/2009/04/benta-pereira.html. Consulta em 28/05/15; 

- PENNA, Patricia Ladeira. Benta Pereira: mulher, rebelião e família em Campos dos Goytacazes, 1748. Dissertação de mestrado em História – UFF – 2014.